Mantinha ainda os olhos fechados. Saboreava o momento. Sentia que tudo voltava à primeira forma. E que bem ele se sentia quando estava em forma! O seu corpo, lentamente, começava a corresponder a todos os estímulos nervosos. Sim, estava novamente em forma!
Mantinha os olhos fechados. Mas sorria. Não era uma gargalhada. Não podia nunca ser! Mas sorria, porque se sentia novamente em forma. A tortura do sofrimento tinha passado. Pôrra, tinham sido longos meses difíceis. Para ele e para todos. Sim, estava consciente da perda e isso fez-lhe esmorecer o sorriso. O que custava em todo esta viagem era a perda. Mas ele agora sentia-se em forma, como nunca se tinha sentido. O sorriso voltou de novo!
Experimentou abrir os olhos. Tinha medo. Recuou, para antes sentir melhor o seu corpo. O seu corpo, que nos últimos tempos lhe tinha pregado tantas partidas. Os músculos, mais uma vez, corresponderam e sentia-os pujantes, como no tempo do hóquei. Sim, estava novamente em forma. E abriu ainda mais o sorriso.
Apetecia-lhe ouvir música. Não interessava qual. É claro que se fosse brasileira ou dos anos 80, seria bem melhor. Verificou os sentidos, todos os 5. Sim, estavam lá todos, inclusivamente aquele que tinha sido mais afectado. Ao fundo, pareceu-lhe ouvir música, que foi-se tornando mais perceptível. Sim, estava novamente em forma.
Abriu os olhos. Estava em frente de um espelho e experimentou a sensação de se olhar de frente. Tinha readquirido o eterno bronzeado, o brilho nos olhos e o contorno da cara era novamente perfeito. Sentiu-se em plena forma. Não, estava totalmente em forma, perfeito no seu corpo! E sorriu. Um sorriso sincero, confiante.
A noite ainda envolvia aquele espaço infinito, onde o tempo se desenrola consoante a nossa vontade e onde a percepção das coisas é clara. Escolheu vestir a camisa rosa-velho (para dar sorte ao Benfica), umas calças de ganga e calçou aqueles mocassins, sem meias claro! Apeteceu-lhe contar aquela anedota sobre a compra do Suazo (para que o Benfica tenha peças de substituição para o Mantorras), mas ainda não tinha encontrado ninguém.
Foi caminhando. Às vezes apressava o passo, quase correndo. Outras vezes, num passo lento, saboreava cada pedaço desta redenção, deste novo viver. Sim, sentia-se bem de novo, tinha renascido no mesmo corpo, mas perfeito, em forma. Sim, estava novamente em forma!
O dia nascia e a sua viagem começava a espalhar-se. Agora era preciso passar o seu sorriso a todos aqueles que sentem a sua perda. Lentamente, ele sabe que o vai conseguir. A lembrança, o seu sorriso fácil e contagiante vão-se sobrepor à tristeza da ausência. Será essa a sua primeira tarefa: que todos sintamos que ele agora está bem, novamente a sorrir. Em grande forma!
ATÉ SEMPRE